top of page

Racismo e saúde emocional: quais as consequências?

Todos nós já vivenciamos situações racistas ao longo da vida e o assunto é causador de grande incômodo. Uns ficam constrangidos pelo que estão vendo/ouvindo, outros sentem repúdio ou uma vontade gigante de acolhimento e de justiça. Mas e pra quem vive essa realidade todo o santo dia? Qual é o impacto que isso tem sobre a sua saúde emocional?


Há poucos dias, acompanhamos o caso do jogador Vinicius Jr, do Real Madrid, onde sofreu inúmeros ataques racistas da torcida adversária e afirmou que essa situação não foi um caso isolado, aconteceram também em outras ocasiões. Meu intuito hoje não é falar sobre ele ou sobre o ocorrido em específico, mas sobre algo que poucos conhecem.


O racismo é marcado por gerações, tanto por quem o pratica como por suas vítimas. Por um lado, existe a reprodução de falas e comportamentos racistas que, é lógico, precisam ser abolidas. Neste contexto, sabemos muito claramente qual é o nosso papel como sociedade – embora os movimentos pareçam extremamente lentos. Mas por outro, existe àqueles expostos a uma realidade constante de violência e discriminação e que sofrem, além de tudo, com o efeito “bumerangue”.


Estudos apontam que passar constantemente por experiências de discriminação na infância pode impactar no desenvolvimento cerebral e outros sistemas biológicos, pois “obriga” o cérebro a se manter o tempo todo em estado de alerta, o que gera altos níveis de estresse em longos períodos. Isso significa que pode haver um desequilíbrio neural, criando mais conexões às áreas dedicadas à resposta ao medo, à ansiedade e às reações impulsivas e menos conexões neurais às áreas dedicadas à racionalização, ao controle do comportamento e ao planejamento.


Crianças que são associadas a estereótipos negativos diariamente ou, mesmo quando não são alvos diretos, mas presenciam violência racista com as pessoas próximas a ela, podem desenvolver altos níveis de estresse e, em consequência, provocar alterações físicas e emocionais. Nessa fase da vida, onde a criança começa a construir suas ideias de mundo, sua capacidade de confiar e acreditar em si mesma e ser, ao mesmo tempo, bombardeada por adjetivos pejorativos pode trazer sérios efeitos nocivos não só a criança, mas também ao adulto que se formará. E é aqui que entra o efeito “bumerangue”, onde o adulto cuidador também sofre as consequências do estresse do passado, fazendo com que a criança seja afetada novamente, mesmo que indiretamente.


Embora muitos consigam superar essa narrativa para outros e, talvez a grande maioria, crescer vivenciando esse tipo de experiencia pode servir como uma espécie de “sentença” em sua trajetória pessoal e profissional. Não surpreende, portanto, que as taxas de adoecimento psíquico, desenvolvimento de doenças crônicas, violência e suicídio sejam maiores em negros do que em brancos.


Falar de racismo vai muito além de um debate moral, ético ou de responsabilidade social. É falar sobre saúde mental, cuidado e acolhimento. Afinal, como seria nossa sociedade sem as disparidades provocadas pelo racismo?

0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Valor do Tempo

Qual o valor do tempo afinal? Embora o tempo seja o mesmo para todos nós, as respostas pra essa pergunta são diferentes para cada um. Em...

Maldita Insuficiência.

A sensação de não ser bom o suficiente acompanha muitos de nós. Seja no trabalho, nos relacionamentos e até mesmo como pai, como mãe,...

Sobre romantizar sacrifícios...

Como não admirar o comprometimento de alguém que é sempre o primeiro a chegar no trabalho e o último a sair? Como não valorizar àqueles...

Comments


bottom of page